A ESTRADA DA ALEGRIA
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da alegria. No simples, no próximo, no escondido da vida ajuda-nos a ouvir a pequena sinfonia da alegria e a abrir, com solenidade, para ela as portas indecisas do tempo que corre. Só quem saboreia as pequenas alegrias dá-se verdadeiramente conta das grandes. Só quem rejubila com a alegria dos outros percebe que ela é, em cada um de nós, uma onda puríssima que se expande. Ajuda-nos a inscrever a alegria como tarefa e, ao mesmo tempo, a mantermo-nos disponíveis para o modo surpreendente e gratuito da sua vinda.
A ESTRADA DA LIBERDADE
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da liberdade. Ajuda-nos a ver, nos braços fatigados, asas. Nos obstáculos mais hirtos, desafios que nos modelam. Nos nossos limites de hoje, as portas que havemos de transpor amanhã. Recorda-nos cada dia que estamos prometidos à imensidão e à transparência. Há uma arte de ser que fica muitas vezes ignorada: que nós a descubramos, humildes, mas também vibrantes, acreditando-nos amados e por isso capazes de uma plenitude felizes. Que o sentido da aventura interior se sobreponha ao nosso modo sonâmbulo e assustado. E, depois de termos pedido o pão, tenhamos a sabedoria de pedir ainda o desejo e o espanto.
A ESTRADA DA MANSIDÃO
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da mansidão. Ajuda-nos a contrariar a ferocidade do tempo, fora e dentro de nós. Que a tua paz seja a fonte secreta que tudo sustenta. Tudo provenha dessa paz sem vencidos nem vencedores. Dessa paz que acalma as ameaças e os cercos implacáveis. Dessa paz pronunciada ao mesmo tempo como firmeza e doçura. Dá-nos mansidão nas palavras que tão facilmente se tornam impermeáveis e nos propósitos que a competição empurra para uma agressividade sempre mais dura. Que cheguemos à mansidão das paisagens reconciliadas como pequenos cursos de água quase sem rumor, fazendo florir a terra.
A ESTRADA DA CONFIANÇA
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da confiança. Dá-nos um coração capaz de amar serenamente aquilo que somos ou que não somos, aquilo com que sonhamos ou as coisas que não escolhemos e que, contudo, fazem parte de nossa vida. Ensina-nos a devolver a todos os teus filhos e a todas as criaturas a extraordinária bondade com que nos amas. Não permitas que o nosso espírito se feche no medo ou no ressentimento: ensina-nos que é possível olhar a noite não para dizer que pesa em todo lugar o escuro, mas que a qualquer momento uma luz se levantará. Dá-nos ousadia de criar e recriar continuamente mesmo partindo daquilo que não é ideal nem perfeito. E, quando nos sentirmos mais frágeis ou sobrecarregados, recebamos, com igual confiança, a nossa vida como um dom e cada dia como um dia de Deus.
A ESTRADA DA MISERICÓRDIA
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da misericórdia. Dá a cada um de nós a capacidade de acolher apenas, sem juízos prévios nem cálculos. Dá-nos a arte de acolher o trêmulo, o ofegante, o frágil modo com que a vida se expressa. Torna-nos atentos ao desenho silencioso e áspero dos dias; à dor profunda e, porém, quase anônima a nosso lado; ao grito sem voz; às mãos que se estendem para nós sem as vermos; à necessidade que nem encontra palavras. Ensina-nos que fomos feitos para a misericórdia e que ela é a sabedoria que tu, Senhor, mais amas.
fonte do texto:
MENDONÇA, José Tolentino. Um Deus que dança: itinerários para a oração. São Paulo: Paulinas, 2016. p. 113-117
Disponível em https://www.paulinas.com.br/loja/um-deus-que-dancafonte da imagem:
CECCONI, Carlos Francisco. Caminho. 2019.