O FLORESCER DA VIDA

Algumas tarefas nunca terminam.

Por exemplo, aprender a escutar, em vez de temer, pois a escuta é uma forma de hospitalidade da vida, e o medo uma forma de rejeição.

Aprender a associar, em vez de dividir, porque quando o círculo se amplia, abraçamos mais mundo.

Aprender a não cancelar, mas a integrar o vórtice exterior ou interior que irrompe mesmo sem motivo aparente; a imperfeição que se esconde em toda parte e com a qual só com muito esforço nos reconciliamos; o que à primeira vista é dissonante e cujas possibilidades de harmonia compreenderemos mais tarde.

Aprender a não deixar de lado, mas a interpretar a curva da solidão que surge no meio do caminho; o vazio que em certas horas se apodera da nossa casa, tornando-a desconhecida e quase abstrata; o sentimento daquilo que nos falta e que nos causa arrepios.

Aprender com o tempo não a estratégia da fuga, mas a paciente sabedoria da confiança, que nos coloca diante de Deus e uns diante dos outros assim como somos. E nós somos frágeis e fortes, vacilantes e seguros, competentes e incapazes, desejantes e conformistas, sonhadores e já acomodados. Mas somos filhos e filhas, irmãos e irmãs, e é por isso que a cada momento a força comum da confiança pode sobrepor-se à dispersão e conjugar-se para que aconteça aquele milagre que é o florescer da vida.

fonte do texto:
MENDONÇA, José Tolentino. Artigo publicado pelo IHU Instituto Humanitas Unisinos em <https://www.ihu.unisinos.br/categorias/634782-o-florescer-da-vida-artigo-de-jose-tolentino-mendonca>. Acesso em 07 dez 2024.