I – Perdoo-me por não me permitir inteiro neste momento, dividindo a tudo e a todos, segundo minhas frágeis categorias intelectuais.
II – Perdoo-me por não me aceitar chegado e fazer de minha manifestação uma constante exigência na busca de algo que ainda não sou, desperdiçando aquilo que estou podendo ser a cada instante único.
III – Perdoo-me por pouco necessitar e muito desejar, fomentando a indústria da atividade e me fazendo esquecer do artesanato da ação.
IV – Perdoo-me por moldar o mundo dentro de minha mitologia pessoal, ganhando uma impressão de segurança e perdendo o eterno e intraduzível novo.
V – Perdoo-me por não me ouvir com o coração de um amante que dança e dança no arco-íris, a cada vez que estou em companhia de mim mesmo.
VI – Perdoo-me por achar que a vida não me dá uma chance quando muitas vezes não me encontro disponível, nem tampouco, instrumentalizado para recebê-la.
VII – Perdoo-me, sobretudo, por usar os meus cotidianos como álibi do furto de não ter me realizado.
fonte do texto:
SEIXAS, Sérgio; FRANKLIN DE OLIVEIRA, Lygia. Babuska transpassada: uma história do amor. Rio de Janeiro: Booklink, 2004. p. 122.