AS DOZE NOITES SANTAS

As 12 Noites Santas representam a escada de expansão da Consciência Divina em nós…” Sergei Prokofieff.

É o assim denominado período que vai da noite de Natal (25) até a noite anterior ao dia dos Reis (05), quando, segundo a antiga tradição cristã, bênçãos divinas se derramam sobre nós através dos portais das 12 constelações do Zodíaco, o cinturão de estrelas em volta do espaço sideral no qual existimos.

As 12 badaladas da meia noite do Natal anunciam a vigília que é um preparo espiritual, como se as Noites Santas fossem uma prévia dos 12 meses do ano que se inicia.

As virtudes recebidas das hierarquias espirituais nesta época, através da meditação, injetam suas forças no nosso desenvolvimento espiritual ao longo do novo ano.

Uma atenção especial deveria ser dada aos sonhos como mensageiros do espírito.

A tradição das 12 Noites Santas e o Zodíaco

Podemos associar esta tradição à sabedoria antiga do Oriente através do relato da Jornada dos Reis Magos do Evangelho de Mateus (Mt 2,1-12).

Na noite em que nasceu o Salvador, uma estrela se iluminou e este era o sinal há muito esperado pelos Iniciados do Oriente, que durante 12 noites seguintes seguiram o brilho da estrela que os precedia até alcançar a criança que havia sido anunciada como o Messias.

O relato do Evangelho de Mateus nos remete para os mistérios espirituais da antiguidade, etapa do desenvolvimento da humanidade da época do assentamento na região do Mediterrâneo, quando aqueles que eram iniciados desenvolviam a visão clarividente através da qual, o que hoje é considerado pela astronomia como corpos siderais, eram vistos por eles como a manifestação de seres espirituais em atividade constante e transmutação contínua.

A este antigo estado de consciência clarividente está associado o surgimento da astrologia, esta sabedoria baseada na analogia do movimento e posição dos astros com o destino humano. Ao fazermos a vigília das Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação interior com esta sabedoria a respeito das 12 constelações do Zodíaco.

Quem são os seres que vamos encontrar na jornada das 12 Noites Santas?

Rudolf Steiner refere-se às hierarquias espirituais em muitas de suas palestras. Inicialmente ele lhes dedica um capítulo na Ciência Oculta (1905) descrevendo a atuação delas na evolução do universo e do ser humano.

As nove hierarquias espirituais podem ser contempladas como esculturas no portão sul da Catedral de Chartres desde o século XIII. Chartres foi a mais importante catedral gótica da idade média e neste portão, chamado de Portão da Transubstanciação, as hierarquias formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual da Escola de Chartres. O aluno deveria, de degrau em degrau (gradualmente), adquirir consciência destes seres espirituais que representavam diferentes estados de consciência.

Neste aprendizado o pensamento era considerado um instrumento necessário para a percepção do espiritual desde que fosse casado com a vivência dos sentimentos e assim tornavam-se ambos, pensar e sentir, órgãos de compreensão e de participação no mundo espiritual.

Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de Dionísio, o Aeropagita que fundou a primeira escola esotérica cristã da antiguidade. Dionísio, um iniciado dos antigos centros de mistérios gregos, renomeou os seres divinos que eram chamados como os seres de Vênus, os seres de Mercúrio, etc., a partir da revelação do Cristo feita a ele por Paulo de Damasco em Atenas.

O manuscrito sobreviveu ao longo de séculos até ir parar em Chartres e é intitulado: “Os Nomes divinos e a Teologia Mística”, descrevendo dramaticamente os nove níveis de seres divinos associados em grupos de três hierarquias que participaram da evolução da terra e do ser humano.

A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos que iniciaram a evolução estando tanto no seu início como no seu fim – no Alfa e no Ômega.

Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica que é denominada como a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do Amor Divino, da doação cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria substância dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.

A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai.

Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a primeira hierarquia atuou de fora, eles, de dentro do processo, acolheram os planos divinos transformando-os em sabedoria, dando-lhe movimento e forma.

E por último a terceira hierarquia, os Arqueus, Arcanjos e Anjos próximos ao ser humano porque desenvolveram a sua essência nesta etapa evolutiva em que nós, Anthropos, nos encontramos e na qual estamos destinados a nos tornar co-criadores da evolução.

Primeira Hierarquia Segunda Hierarquia Terceira Hierarquia
Serafins Kyriotetes Arqueus
Querubins Dynamis Arcanjos
Tronos Exusiai Anjos

Já nos últimos anos de sua vida, em uma palestra intitulada a “Palavra Cósmica e o Homem Individual” (2/05/1923), Rudolf Steiner chama a atenção para o fato de que o homem auto consciente deveria re-aprender a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como realidades.

Nesta palestra ele diz que estes seres espirituais vem ao nosso encontro quando nos preparamos para conhecê-los e falarão à nossa alma primeiramente como pensamentos e sentimentos, e só depois então o perceberemos como realidades.

Em um texto intitulado “O Zodíaco e as Hierarquias Espirituais”, Sergej Prokofieff, atualmente um dos dirigentes mundiais da Antroposofia, inspirado por diversas palestras de Rudolf Steiner, descreve o ensino espiritual de Chartres nesta tradição da vigília das 12 noites santas.

Ele delineia a escada de expansão da consciência que ajuda a dar nascimento, no último degrau, ao ser divino em cada um de nós.

O primeiro degrau da escada se assenta na esfera humana terrena e cada degrau nos leva gradualmente à esfera macrocósmica, à esfera divina.

Prokofieff faz uma analogia entre este caminho de transformação e o processo de desenvolvimento descrito por R. Steiner como o caminho de Jesus a Cristo.

Jesus nasce como a criança arquetípica destinada a se desenvolver como um ser humano de tal forma que possa acolher em si o Eu do Cosmo no Batismo do Jordão.

Este acontecimento místico derramará sua influência por sobre toda a história da humanidade como um grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.

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fonte do texto:
ANDRADE, Edna. As Doze Noites Santa [Site Festas Cristãs: <http://www.festascristas.com.br/12-noites-santas/12-noites-santas-textos-diversos/483-as-doze-noites-santas-edna-andrade>]. Acesso em 24 dez 2020.
Palestra proferida por Edna Andrade na Clínica Tobias em São Paulo no Natal de 2006.

Gravação com narração de Mirna Grzich, produção de Gabriel Lehto