A prática da meditação oferecida por Buda tem duas partes: parar e olhar profundamente. A primeira parte da meditação é parar. Se você for como a maioria de nós, você esteve correndo desde que nasceu. Agora isto virou um hábito arraigado, que muitas gerações de ancestrais seus também tiveram antes de você. Eles lhe transmitiram o hábito de correr, de viver tenso, e de ser arrastado por muitas coisas, de forma que sua mente não está total, profunda ou tranquilamente no momento presente. Você se acostumou a olhar as coisas de uma maneira muito superficial e a ser arrastado por percepções equivocadas e emoções negativas que delas resultam. Isto leva a um comportamento equivocado, tornando a vida infeliz.
A prática é treinar-se para parar – parar de correr atrás de todas essas coisas. Mesmo que você não tenha irritação, raiva, medo ou desespero, você continua correndo com este ou aquele projeto, ou com esta ou aquela linha de pensamento, e você não está em paz. Então mesmo (ou especialmente) naqueles momentos em que você não tem problema algum, treine-se para estar presente, relaxando; treine-se para parar e voltar-se às maravilhas do momento presente.
Quando sua mente silencia, você vê as coisas profundamente. Se realmente praticar o parar, você não precisará praticar examinando profundamente, porque você já estará vendo as coisas em profundidade. Parar e olhar profundamente são unos; são dois aspectos da mesma realidade. Se estiver focado em algo importante, que force sua mente a ficar concentrada, e quando estiver concentrado você estará parando e olhando profundamente.
Então, ao parar e entrar em contato com o que é positivo, você se revigora, tem clareza e fica sorridente. Você se alimenta com os nutrimentos da prática e é capaz de nutrir outras pessoas com sua clareza mental, seu sorriso, sua alegria.
Mesmo em meio às maravilhas do momento presente, pode ser que você tenha várias dificuldades; mas se examinar profundamente você verá que ainda tem talvez 80% de coisas positivas para desfrutar e se relacionar. Então não corra. Retorne ao momento presente. Fazendo isto, você cultiva a concentração e verá as coisas mais profunda e claramente. Este treinamento é muito simples, mas tão importante.
Fique por um tempo inspirando e expirando pacificamente no momento presente. Quando a emoção for demasiadamente forte e a respiração não for suficiente para fazer com que você pare e relaxe, saia para caminhar. A atenção em cada passo ajuda sua mente a parar. Não deixe sua mente lhe arrastar para longe com pensamentos, julgamentos, irritações, sentimentos arrebatadores ou projetos. Retorne ao momento presente, pare e relaxe. Pare e se liberte de sua agitação e tensão. Mesmo que não esteja experimentando fortes emoções, treine-se para quando você precisar pensar sobre algo, contemplar algo, examinar algo em profundidade, ser capaz de sentar-se calmamente e examinar profundamente e fazer o seu plano.
Com prática você consegue soltar a tensão e reduzir a dor de seu corpo, consegue reconhecer os sentimentos dolorosos dentro de si e sabe como abraçá-los, soltando a tensão dos sentimentos e trazendo alívio. Você consegue criar um sentimento de alegria e felicidade sempre que quiser.
Com uma boa prática você deixa de ter medo dos obstáculos e dificuldades. Você saberá lidar com as dificuldades que surgem. Com a prática verdadeira não há mais motivo para ficar amedrontado, porque você compreendeu o caminho. Quando você sabe administrar o seu corpo, seus sentimentos, suas percepções, não há mais necessidade de se preocupar.
Esteja em pé parado, andando ou sentado em meditação, você pode usar sua inspiração e expiração para lhe ajudar a parar. Você para totalmente no momento presente. E quando para, você é o mestre do seu corpo e da sua mente. Você não deixará a energia do hábito lhe arrastar pra longe com pensamentos compulsivos de algo relativo ao passado ou futuro, deste ou daquele projeto. Você se treina para parar, relaxar e viver em paz. Sentar em meditação não é uma luta. Você deixa tudo pra lá.
Quando um pensamento chega, você diz olá, e depois diz adeus imediatamente. Quando outros pensamentos chegarem, apenas diga olá e adeus novamente. Não lute, não diga: “Eu sou tão ruim, eu penso em tantas coisas!” Você não precisa pensar desse jeito. Você apenas diz oi e tchau, relaxa e deixa pra lá. Você traz sua mente para o momento presente e repousa na consciência do seu corpo. É como ensopar o feijão na água. Você não precisa forçar a água a entrar no feijão. Você deixa o feijão estar na água , e lentamente, lentamente a água penetra nele. O mesmo se dá com você. Deixando pra lá, a tensão se desprenderá lentamente, lentamente, lentamente. E você se tornará mais relaxado e cheio de paz. O treino é simplesmente continuar trazendo sua mente de volta ao momento presente junto ao seu corpo.
Quando você anda, geralmente o seu corpo está aqui, mas sua mente está noutro lugar. Aqui novamente, o treinamento é voltar ao momento presente. O seu corpo e mente estão unidos. Isto é muito profundo. E você vê coisas de uma forma clara e mais tranquila. Se algum pensamento negativo surgir, diga apenas olá e esteja consciente daquele julgamento. Ele pode ter vindo do seu pai, da sua mãe ou de outra pessoa que lhe influenciou. Então deixe para lá e sorria pra ele. Este é o seu corpo consciente – que quer dizer que o seu corpo abriga sua mente nele. Nós nos treinamos para sempre ter um corpo consciente, para quando sentar, saber que estamos sentado, e nossa mente está totalmente em nosso corpo sentado. Quando anda, sua mente está totalmente no seu corpo caminhante. Você sabe, toda vez, que está colocando o pé no chão, pacificamente, amorosamente e profundamente.
fonte do texto
NHAT HANH, Tich. Medo: sabedoria indispensável para transpor a tempestade. Petrópolis: Vozes, 2014. p.93-97fonte das imagens:
NHAT HANH, Tich. Caligrafias Zen criadas por Thich Nhat Hanh expostas no site da comunidade Plum Village. Disponível em <https://plumvillage.org/about/thich-nhat-hanh/calligraphy/>.
PLUM VILLAGE. fotos de Thich Nhat Hanh. Disponível em <https://plumvillage.org/>.