AS DISTRAÇÕES

Às vezes, você pensa, “vou fazer isso”, mas logo lhe ocorre outro pensamento, outro e mais outro, e passam-se horas… até que finalmente você se pega pensando: “ai, ia fazer isso e não fiz!” “Ia pegar minha carteira e acabei não pegando.” “Ia telefonar pra fulano e acabei não ligando.” A certa altura lhe vem o pensamento “mas, por que você não pôs em prática?”; você não estava concentrado, não havia clareza, nem foco; você teve muitos pensamentos, um atrás do outro, e muito rápidos. Quando sua mente pensa assim, você passa de uma tarefa a outra e larga as coisas pela metade, sem terminar. Sua lista de tarefas pendentes é interminável e a desordem, a desorganização e a bagunça aumentam à sua volta.

Convém analisar por que isso acontece com você. Talvez o que tem diante de si, o que crê que deve fazer ou tratar, não o interesse. Para você é custoso estar nisso. Sua mente se distrai facilmente. Você foge da realidade à sua frente. Você precisa deixar sua coragem interior e sua valentia aflorarem para enfrentar o problema. Ou, quem sabe, o que necessita seja a paciência. Talvez você não ame o que está fazendo e se distraia com o que ama ou com o que preferiria estar fazendo.

Talvez você não esteja onde queria estar. Muitas vezes, nos distraímos porque quando estamos no trabalho queremos estar em casa, quando estamos em casa gostaríamos de estar jogando com os amigos e, quando estamos com os amigos, pensamos nos filhos. E, assim, nunca estamos concentrados no presente. Desejar estar onde você não está o distrai. Não estar com sua mente e com seu coração onde está o seu corpo lhe subtrai força interior para ver com clareza o que você precisa decidir aqui e agora, neste lugar e neste momento.

Quando você sai de casa, mas sua cabeça já chegou ao escritório, você esquece coisas. Talvez as chaves, ou um documento. Quando você chega ao trabalho, lembra-se do que esqueceu em casa. Quando você está no carro, mas sua cabeça já chegou ao seu destino, você não desfruta da viagem. E se algo requer sua atenção na viagem, você não o vê. Viajar distraído provoca acidentes.

A questão é: o que me faz querer estar constantemente onde não estou? É possível que haja uma insatisfação que o faça não se sentir bem. Há um tipo de insatisfação saudável que o impulsiona a não se acomodar e mudar. É bom distingui-la de outro tipo de insatisfação que surge quando você está ancorado nas queixas, nas preocupações, na raiva ou em outras emoções nocivas.

Viver o presente na resignação, na raiva ou em outros estados emocionais negativos é incômodo e pode até mesmo ser doloroso. Compreender as raízes de seu mal-estar e deixá-las para trás, perdoando-as, em vez de agarrar a elas, o ajudará a viver o presente em um espaço mais saudável. O presente é uma dádiva que você tem aqui e agora. Desfrute-o. Quando o passado inunda os espaços de seu ser, você é invadido pela tristeza, pelo medo ou pela raiva e não aproveita o momento presente. Deixar o passado para trás é essencial para progredir.

Canalize seus esforços e suas ações em direção ao destino, ao lugar que quer alcançar ou ao que almeja conseguir. Você cria o futuro a cada passo que dá; por isso, é importante estar aqui no lugar em que você dá o passo. Sem se distrair com o entorno e mantendo uma visão clara do ponto para o qual você está se dirigindo.

No caminho haverá distração e dúvidas surgirão. É importante concentrar-se internamente. Este é o desafio ser e estar em você. Centrar-se no que o motiva e lhe dá vida, no que o faz brilhar e ser melhor.

Como conseguir isso? A resposta está no “conhece-te a ti mesmo”, frase gravada no átrio do templo de Apolo em Delfos, na Antiga Grécia. São palavras entalhadas no frontispício do tempo e atribuídas a um dos Sete Sábios da Grécia, Tales de Mileto.

Conhece-te a ti mesmo não tem nada a ver com as crenças e ideias que vagam por sua mente. É estar enraizado no ser sem estar perdido na mente nem no corpo, nem nos papéis e nem nas convenções sociais. Implica um processo de desidentificação com tudo isso para reencontrar sua essência.

Mergulhe no conhecimento que lhe permita ver e explorar os recônditos de seu ser: o essencial, o mental, o emocional e o corporal. Esse “mergulho” interior lhe permite acrescentar amor ao seu discernimento, para que suas decisões surjam de um espaço de benevolência e não de crítica, cinismos ou juízos destrutivos que afastam, afastam você e provocam rejeição.

Meditar o ajudará a estar aqui e agora. A ser e estar em você mesmo deixando que sua energia de amor flua, e diluindo o pensamento cínico. Meditar o ajuda a enfrentar. Meditar não é fugir nem distrair-se.

SUBIRANA, Miriam. Serenidade mental: decida com lucidez. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. p.50-53