TORNAR-ME PRESENTE

Tornar-me ciente de que se não estou presente e consciente do que e no que faço, muitas vezes, pra não dizer na maioria das vezes, ou quase sempre, alcanço o exato oposto do que quero, pretendo, desejo alcançar.

Assim ciente, este estado pode trazer o que me falta para o meu passo em tornar-me Presente.

Quando me torno presente, quando estou na Presença, contribuo para que os outros nas minhas relações, no meu entorno, e além, também estejam presentes. Inversamente, quando estou ausente, convoco ausências.

Surfar na frequência da Presença é ação que construo junto, em percepções e convites que me despertam o Ser. O Ser Eu Sou. Não é pensamento, não se limita ao mental. Acontece por todas as minhas células e por tudo o mais de invisível que me constitui consciência. Na Presença há ressonância.

Diferente é a ausência: só fico na ausência.

A Presença me lembra a poesia de João Cabral de Melo Neto:

TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto

1

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

* * *

A Presença cura!

fonte da imagem:
PASTRO, Cláudio. Trindade